domingo, 25 de março de 2007

Policial: profissão perigo

Já foi o tempo em que o policial era visto símbolo da proteção. Hoje em dia, eles são os principais alvos de bandidos que aterrorizam a cidade. Já chega a 38 o número de policiais mortos nesse trimestre. Segundo a Secretaria de Segurança, foram 32 PMs e seis civis. Dos PMs, 10 foram mortos em serviço, sendo nove em confronto e um de enfarto. Os demais morreram durante a folga, por razões diversas, sendo a maioria em conseqüência de reação a assaltos ou executados por bandidos.
Em missa realizada na Igreja da Candelária em memória as vítimas, o governador Sérgio Cabral informou que serão tomadas medidas concretas para reforçar o duelo contra a criminalidade, como a convocação de investigadores da Policia Civil e reforço do número de policiais nos batalhões, onde a incidência de crimes é maior.
O secretário de Segurança José Mariano Beltrame lamentou as mortes ocorridas este ano, mas ressaltou o heroísmo dos profissionais, confessando o orgulho pela dedicação a profissão que escolheram. "É preciso ter indignação contra a barbárie. A capacidade de nos indignarmos contra a estupidez desses criminosos é que nos mantém na luta, sem jamais perder a esperança de vencê-la. Só assim a morte desses e de outros policiais não será em vão. Vamos apoiar os policiais que ainda continuam nas ruas, acreditando sempre num futuro melhor", disse Beltrame.Entre o dia 8 e o dia 15 deste mês, 12 policiais militares foram assassinados no Rio: cinco estavam em serviço, quatro de folga e três estavam à paisana.

Relembre os casos:
Na quinta-feira (8 de março), o soldado da PM Cláudio Ferreira da Silva, lotado no Batalhão de Choque, foi morto a tiros por dois homens em uma moto em um ponto de ônibus da Avenida Marechal Deodoro, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Os ladrões teriam atirado ao perceber que o soldado, embora estivesse à paisana, estava armado. Pouco antes, o PM Fábio Luis Gadelho de Carvalho havia sido morto em Olaria, na Zona Norte do Rio. Ele seguia em um carro da corporação quando foi atacado por homens que seguiam em outro carro. Os algozes seriam traficantes da favela do Caracol.
Naquela mesma noite, foram mortos ainda o cabo da PM Sebastião da Silva Santos e o soldado Fábio Roberto da Silva, do 9º Batalhão (Rocha Miranda), na Avenida Monsenhor Félix, em Irajá, também Zona Norte do Rio. Eles chegavam para atender uma ocorrência, mas foram recebidos a tiros por quatro desconhecidos. Os dois morreram na hora, e as armas que eles carregavam foram roubadas.
Na noite de sexta-feira (9 de março), Marcel Soares de Souza, 32 anos, foi abordado por dois homens quando voltava para casa, em Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio, e baleado no rosto. O policial também era do 9° Batalhão.
Na noite de domingo (11 de março), o soldado da PM Cláudio Malker de Freitas Silva, 37, lotado no 12º Batalhão (Niterói), foi morto a tiros em um restaurante da praia de Itaipuaçu, em Maricá (RJ); e o PM Douglas de Oliveira Carneiro, 35, foi cercado por um grupo e morto a tiros ao sair de um baile funk, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio.
Na noite de segunda-feira (12 de março), o capitão da PM Paulo César Silva dos Santos Lima foi morto a tiros por homens que interceptaram seu carro, um Honda Fiat, para roubá-lo, em Anchieta, na Zona Norte do Rio. Ele estava à paisana no momento do crime.
Na noite de terça (13 de março), o sargento Hélio Ricardo Porto Valentino, 45, foi rendido por criminosos quando passava em seu carro, um Siena, na Pavuna. De acordo com a PM, o sargento estava de folga e não reagiu, mas os ladrões atiraram ao perceber que havia uma farda da corporação no banco traseiro.
Na noite de quarta (14 de março), o segundo-sargento da PM Jorge Ulisses Vieitas Fernandes Vieira foi morto a tiros por um grupo de homens armados na rua Irapuã, na Penha Circular, na Zona Norte do Rio. Ele seguia em seu carro, um Fiat Uno prata, para o quartel do 5º Batalhão, quando foi rendido. Desta vez, os ladrões também teriam atirado ao perceber que, dentro do carro, estava a farda do PM. Os criminosos levaram o carro e a arma que ele portava.
Na quinta-feira (15 de março), dois PMs foram assassinados. Pela manhã, o soldado Elson de Souza Rente, 30, foi baleado ao tentar impedir um assalto no Jardim América (zona norte). Um colega que estava com ele no momento do crime, Leandro Ipanema, ficou ferido. À noite, o sargento Aílton Lima da Fonseca morreu depois de ser baleado na cabeça durante uma operação na favela da Metral (zona oeste).

Policiais revistam crianças

Mais uma cena chocante estampou as primeiras páginas dos principais jornaisdo país: um policial, com um fuzil em punho revistava crianças, de uniformes da rede municipal de ensino do Rio, na passarela de Vigário Geral durante uma operação nesta favela carioca. A justificativa usada era de que a investigação havia fotografado traficantes escondendo armas nas mochilas dos alunos. Com uma decisão polêmica, a desembargadora Cristina Tereza Gauli concedeu uma liminar, proibindo a polícia de causar constrangimento, por causa de revista, a qualquer criança ou adolescente no Estado do Rio. De acordo com a decisão judicial, os policiais só poderão revistar menores em situação de flagrante delito ou com fundamentada suspeita de prática criminosa. Mesmo nessas situações, a criança deverá estar acompanhada de um responsável ou de algum representante do Conselho Tutelar.

A liminar, que atende ao pedido da ONG Projeto Legal, foi comemorada pelo coordenador da organização. "Essa é uma vitória para os jovens de todo o Estado do Rio. O que as fotos da ação da polícia mostram é um absurdo. Não se pode aceitar que crianças recebam o mesmo tratamento dado a um criminoso", disse o coordenador Carlos Nicodemos. A ONG Projeto Legal desenvolve projetos sociais na área da defesa dos direitos humanos de menores. A decisão também foi elogiada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "Se os traficantes usam as mochilas das crianças para esconder armas, são eles que devem ser combatidos", afirmou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, João Tancredo.

Em contrapartida, a polícia argumenta que sem poder fazer as revistas, fica difícil coibir esse tipo de ação dos traficantes. Porém, fatos mostram que não só eles estariam usando menores em atividades criminosas. Maria de Fátima Ventura, 42 anos, foi presa em um supermercado na Pavuna, zona norte do Rio, acusada de roubar dez latas de azeite importado e colocá-las na bolsa da filha de 12 anos. A adolescente foi abordada quando saía com a mercadoria roubada. Os seguranças acompanharam toda a operação através do circuito interno de TV. A adolescente, que segundo os policiais estava apavorada e muito nervosa, contou que foi a primeira vez que presenciou a mãe levar produtos de alguma loja, mas admitiu que desconfiava que Fátima praticasse esse tipo de crime. Ela foi entregue ao advogado da mãe e depois levada para casa de parentes.

Esses dois casos acenderam a polêmica entre os alunos do Campus Madureira, da Universidade Estácio de Sá. Estudante de Jornalismo do terceiro período, Rafael Paim considera que em alguns casos a revista é inevitável: "Só acho válido a revista quando há certeza de que existe alguma mochila da criança, como no caso do supermercado. Fora isso, sou totalmente contra." O aluno Rodolfo Machado, do terceiro período de Direito, também admite a revista, desde que feita com a presença dos responsáveis e autoridades legais: "Essa revista fere a Constituição. Só concordo, se as crianças estiverem na presença dos pais. Nenhum policial pode expor essa crianças ao ridículo de ser revistada, como se ela tivesse cometido um crime". Fabiana Almeida, do sexto período de Publicidade, concorda que a revista possa ocorrer desde que de uma forma legal. "Revistar sem fundamento não acho legal, a não ser que haja algum indicio que tal criança esteja com armamento ou drogas."

Matriculada nos sexto período de Letras, Miriam Melo, é radicalmente contra a revista e acha que casos como da exploração da menor pela mãe para roubo no supermercado é um fato isolado que não justifica a liberação da revista. "Nada justifica esse ato. Até porque o que tem acontecido são fatos isolados. Não acredito que são todos os pais que faz seus filhos passarem por esse tipo de constrangimento. Os pais merecem pagar caro por isso." Já Thiago Gomes, do sétimo período de Informática, discorda, acha que muitos pais usam os filhos para práticas de crimes e permitem, ou são coniventes, com a exploração deles, pelo tráfico: Só concordo por causa do "maucaratismo" dos pais. Mas concordo também com um estudo ou um treinamento (por parte dos policiais), para essa revista ser realizada de uma forma que não traumatize a criança."

segunda-feira, 19 de março de 2007

Morte da menina Alana aumenta as estatísticas da violência

Mais uma infeliz adesão na mobilização contra a violência. A diarista Edna Ezequiel se uniu a milhares de famílias vítimas que lutam contra este mal que tomou conta de todo o país. Edna teve a sua filha Alana Ezequiel, de 12 anos, morta durante confronto entre traficantes e policiais no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio. A menina voltava para casa depois de ter deixado a irmã mais nova na creche, quando foi surpreendida por uma operação da polícia para combater o tráfico de drogas. Houve troca de tiros e Alana foi baleada na região lombar. A bala atingiu o pulmão e o fígado da estudante, que deu entrada no Hospital do Andaraí, mas não resistiu aos ferimentos.

Ao saber da notícia, a mãe de Alana entrou em desespero, e desde então, acumula olhares tristes, choros contidos e desesperança. Durante a missa de sétimo dia em homenagem a menina, na Igreja da Candelária, no Centro do Rio, ela rompeu o silêncio e clamou por justiça. "Só vou descansar quando souber de onde partiu o tiro que matou minha filha".
Unidos na dor e no protesto, famílias de vítimas da violência estiveram presentes para se solidarizar com Edna, inclusive os pais no menino João Hélio, que completaria sete anos ontem.
O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, após cumprimentar Edna, afirmou não ser a polícia a única culpada pela degradação da paz. “A polícia deve cumprir o seu papel de reprimir a violência, mas a população precisa questionar se é esse tipo de sociedade que deseja. Um assassino não nasce no momento que comete o crime, mas é formado ao longo dos anos, pela falta de oportunidades e de educação", frisou.

ONG levanta tese que moradores de favelas são as principais vítimas de violência
O presidente da ONG Justiça Global, Marcelo Freixo, acredita que moradores de favelas sofrem mais com a violência. “A explicação para isso está na política de segurança que está colocada no Rio, que é uma política que não prevê segurança para essas comunidades carentes. Pelo contrário, prevê segurança contra os moradores de favelas.", alerta Freixo.
A Organização é defensora dos direitos humanos.
O presidente da ONG Viva Rio Rubem César Fernandes, mostrou indignação ao saber que a morte de Alana engorda as estatísticas da violência carioca. “Ninguém agüenta mais. E não adianta dizer se foi assim ou assado. A pergunta se foi bala do bandido ou da polícia é uma pergunta sem importância alguma. O fato é que ela morreu por um tiro, no meio de um tiroteio”, afirmou.