sábado, 7 de abril de 2007

Vitória contra a violência

A palavra "impossível" não faz mais parte do dicionário da universitária Camila Magalhães Lima Mutzenbecher, 21 anos. Ela já tem sensibilidade nas pernas depois de ser submetida a mais uma cirurgia, em Portugal. A jovem ficou tetraplégica aos 12 anos, quando foi atingida por uma bala perdida em Vila Isabel.
Já faz seis meses que Camila voltou de Portugal. Lá, ela passou por uma cirurgia de transplante de células-tronco, e hoje, já nota sensibilidade nas pernas. A notícia foi recebida com festa pela família da jovem, que retomou o sonho de voltar a andar. "Chega a ser difícil descrever o que estou sentindo. Depois da cirurgia, passei a perceber coisas que até pouco tempo atrás não percebia. Outro dia mesmo senti uma dor no joelho que nunca senti antes. É como se estivesse com uma percepção maior do meu corpo", afirma Camila.
Durante a semana, Camila participou de uma sessão intensa de fisioterapia. Auxiliada por um andador e por um imobilizador de joelhos, ela voltou a tentar alguns passos. Segundo a fisioterapeuta Adriana Dias, que está com Camila desde janeiro, os exercícios
ajudam o cérebro da estudante a recuperar a memória motora.
"Pela extensão da área lesionada, não era para Camila fazer certos movimentos nos bíceps, tríceps, punhos e dedos. Mesmo assim, ela é capaz de se vestir sozinha, de usar o computador e até já tirou carteira de motorista. Acredito muito no potencial de recuperação da Camila", comenta a fisioterapeuta, otimista com o sucesso do tratamento.
A mãe de Camila, a aposentada Ana Lúcia Magalhães Lima, 58 anos, continua brigando na Justiça pelo pagamento da indenização a que a filha tem direito. Em setembro, Camila só conseguiu viajar para Portugal graças à solidariedade de um comerciante português, que emprestou 35 mil euros, o equivalente a R$ 90 mil.
"As autoridades precisam entender que não quero o dinheiro para comprar roupas caras ou passear no
exterior. Só tenho três anos para quitar a dívida que fiz para a minha filha fazer a cirurgia. A Justiça tem que prender o ladrão, mas também socorrer a vítima. O ladrão já foi solto, mas minha filha continua presa a uma cadeira de rodas", desabafa Ana Lúcia, que ganha R$ 1.700 mensais de aposentadoria.
Mas a luta de Camila e de sua família não estão próximos do fim. O novo desafio é comprar o Sygen, um remédio que ajuda na regeneração das células-tronco na área lesionada. O problema é que cada ampola custa cerca de R$ 180 e Camila precisa tomar, no mínimo, 60 doses.
"Vivo com pires na mão. Quando um empresta daqui, corro para pagar a quem devo dali e assim por diante. Só em despesas com a Camila, gasto R$ 3 mil por mês. Só não faço mais porque não posso", lamenta a mãe de Camila.
Ana Lúcia abriu uma conta no Bradesco (agência 2796-0, C/P 3783-4) para ajudar no tratamento da filha.

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